sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

UMA ARTE GENIAL

“Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!”*

Quando ele era novo o gênio o encontrou, não como um anjo da guarda ou uma espécie de familiar, a relação assemelhava-se a de dois seres com muitas afinidades. Talvez o gênio, como o menino, fosse jovem e por isso compartilha-se aquela vontade travessa que só a juventude possui.
          Nesse momento vem a lembrança da traquinagem que ambos armaram para a querida vovó.
          Tarde de domingo, um sol crepuscular no horizonte, a vovó aproveitava a calma daquele momento para costurar a cortina que, por outra travessura qualquer, havia se desprendido daquelas pequenas rodinhas com arco que costumam sustentar as cortinas nos trilhos de alumínio, eis que naquele instante o neto grita da pequena lavanderia do apartamento:
– Vovó! Me ajuda! O Trenzinho caiu na máquina.
A vó que já estranhava os quase cinco minutos de silêncio do jovenzinho aliviou-se, apesar de imaginar o gato se molhando e soltando seus pêlos nas roupas que há pouco ela colocara na máquina.
A título de esclarecimento, esse realmente era o nome do bichano: Trenzinho; devido a uma confusão com o nome de dois presentes que, um sendo o gato, o rapazinho havia ganhado no seu penúltimo aniversário, quando havia feito três anos.
Apenas um caminho levava a lavanderia e foi isso que causou estranheza na avó, pois quando chegou ao cômodo encontrou apenas o gato a se debater sobre a camada de roupas molhadas no topo da máquina. Logo que abriu a tampa de vidro do aparelho, Trenzinho saltou horrorizado, caindo no piso e escorregando de volta ao corredor, onde ficava seu confortável espaço almofadado.
– Seu gato porco! Além de sujar a roupa molhou todo o chão. Quero ver se eu molhasse a sua casa – exclamou a vovó em uma de suas típicas conversas com o bichano.
Foi necessário um instante para que ela lembra-se do neto ausente.
– Artur! Onde é que você se escondeu dessa vez – ela gritou alegremente, como é típico das avós que possuem memória curta e amor quilométrico.
Ao voltar para a sala onde estava, encontrou Artur arteiramente fuçando na máquina de costura.
O fato do menino ter se teletransportado da lavanderia ao outro cômodo pouco ocupou a mente da vovó, apesar do neto ter contado o ocorrido várias vezes naquela semana:
– (...) então vó, eu vuei pela janela e entrei pela janela da sala e o meu chinelo, você precisava ver, caiu lá embaixo na cabeça do moço da carta.
Nem mesmo o relato do carteiro surpreendeu a avó:
– A senhora tem que controlar esse menino, ele não pode ficar na janela atirando coisas em quem passa. Aqui está sua correspondência e o chinelo, passar bem.
Após ralhar com o garoto, a vovó pensou admirada na criatividade do menino ao atirar o chinelo pela janela para dar veracidade à estória.
– Esse menino tem cada uma – cochichou a vó antes que a vida voltasse ao seu eixo.

A avó não soube naquele dia, nem naquela semana e nem em muitos outros dias no futuro que a tal estória que o neto contou era fato e que a peripécia teve a ajuda de um gênio tão ancestral e poderoso quanto alegre e travesso, porém essa é uma história do passado, dos tempos em que o relacionamento entre o menino e o gênio estava nascendo. Vamos ao presente onde os reais significados dessa amizade desenvolvem-se com maior clareza.
(Continua)

*Trecho do poema Meus Oito Anos de Casimiro de Abreu.

2 comentários:

  1. Muito bem caro senhor! rs Ótima história, digno de dramaturgo infantojuvenil! Sendo assim, continue e continue! Quero saber o fim do enlace entre o guri o o gênio! rsrs

    Seja bem vindo ao mundo blogueiro! rs Até a próxima!

    Abraços

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  2. Ah valeu por seguir lá viu! vamos trocando histórias por aí! kk

    Abração

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